Encontro com a escritora Margarida Fonseca Santos
A
anunciar o Dia Mundial do Livro e dos Direitos do Autor que se celebra a 23 de
abril, realizou-se na Biblioteca Escolar da Escola Básica e Secundária do Vale
do Âncora um encontro com a escritora Margarida Maria Fonseca Santos, a 21 de
abril. Todas as turmas do 6.º ano estiveram presentes para conhecer melhor esta
autora e as suas obras de literatura infanto-juvenil, que os alunos foram
descobrindo nas aulas de Português, como por exemplo, «7x25 Histórias da
Liberdade», «Bicicleta à Chuva», «Está nas tuas mãos» e a coleção «7 Irmãos»,
escrita em parceria com Maria João Lopo de Carvalho. A disponibilidade da
autora e a sua simpatia permitiram estabelecer um diálogo caloroso e
enriquecedor com os seus leitores.
Guilherme
L. - O que sonhava ser quando era
criança?
Margarida
Fonseca Santos (M. F. S.) - Sonhava ser professora, porque tinha uma grande
paixão pelo ensino.
João D.
- Quando andava no segundo ciclo gostava da disciplina de Português?
M. F.
S. - Sim, pois tinha jeito para a escrita, lia muito, mas não ligava muito a
essas minhas capacidades.
Jéssica
M. - Que género de livros lia quando tinha a nossa idade?
M. F.
S.: Na altura, não existiam muitas obras para crianças. Das que eram
publicadas, as que preferia eram as aventuras da autora Enid Blyton, a coleção
“Os Cinco”.
Cláudio
R. /Sandro B. /Patrícia S. - Estudou Piano e foi professora de Formação
Musical. Qual o motivo que a levou a substituir a música pela escrita?
M. F.
S. - Vi-me obrigada a abandonar a música por razões de saúde que não me
permitiam tocar piano, dar aulas práticas, mas não gostava de dar aulas
teóricas. Naquela época, contava imensas histórias aos meus filhos, e uma amiga
ouviu algumas delas e disse-me que não as podia perder. Decidi, então,
dedicar-me à escrita. A partir daí, não desisti até que as
minhas histórias fossem publicadas.
Fernando
C. - Com que idade escreveu o seu
primeiro livro?
M. F.
S. - Escrevi o meu primeiro livro com 33 anos, mas só foi publicado dois anos
depois.
Bruno
C. - Gosta mais de escrever livros para crianças ou adolescentes? Quais são as
diferenças da escrita?
M. F.
S. – Não há grandes diferenças. Também escrevo para adultos, e aí é muito
diferente: sinto-me mais à vontade, porque são pessoas da minha idade. Para jovens,
sinto que a minha responsabilidade é maior, ainda estão a “crescer”.
Carolina
A. - Enquanto está a escrever, partilha as suas histórias com alguém para pedir
conselhos?
M. F.
S. - Quando acabo, sim, peço ajuda ao meu marido, pois é sincero
e dá-me bons conselhos que costumo respeitar. Porém, enquanto escrevo, não,
porque gosto de estar concentrada no meu trabalho.
Carina
S. - Qual foi o livro que lhe deu mais prazer a escrever e porquê?
M. F.
S. – Não posso falar de “prazer”, mas aquele com que mantenho uma relação
especial é «Bicicleta à chuva», porque foi inspirado num facto real. O tema da
história é o “bullying” e surgiu, quando numa visita a uma escola, uma menina
esperou por mim no fim do encontro como este e desabafou comigo. Contou-me que
estava muito angustiada, porque a mãe e o irmão mais novo, de três anos, sofria
violências constantes por parte do pai. Esta situação deixou-me sensibilizada e
decidi abordar esse problema, alterando um pouco os factos, numa obra seguinte,
tentando ajudar jovens leitores com situações parecidas.
Mafalda
B. - As suas obras têm títulos invulgares. Como lhe surgem?
M. F.
S. - Não tenho jeito nenhum para isso, por isso costumo pedir ajuda à minha
grande amiga escritora Maria Teresa Maia Gonzalez, com quem partilhei a escrita
de algumas histórias, como “Um pombo chamado Colombo” e “A escritora vem à
minha escola”. A Teresa inventa títulos com muita facilidade, basta eu lhe
falar de algumas ideias da obra e logo faz-me propostas irresistíveis.
Maria M.
- Já escreveu livros com outros escritores ou escritoras? Prefere escrever
sozinha ou com outros escritores?
M. F.
S. – Já escrevi em parceria com Elsa Serra (Quero
ser escritor), Maria João Lopo de Carvalho (7 Irmãos) e Maria Teresa Maia Gonzalez. Gostei muito destas
experiências de partilha: destas parcerias nasceram grandes amizades. Temos de
ouvir as opiniões dos outros e, por vezes, temos de fazer cedências, Apesar de
gostar muito de escrever com outros escritores e de aprender muito com eles,
prefiro escrever sozinha, porque assim, a qualquer momento, posso mudar a
história toda.
Inês R.
- Na coleção “7 Irmãos”, porque é que todos os irmãos têm nomes começados por
“M”?
M. F.
S. - Se a escritora Maria João Lopo de Carvalho, com quem escrevo essa série,
estivesse aqui, diria que era porque gostamos de “M&M’S”, mas não é por isso…
Quando procuramos nomes para as personagens, constatamos que há mais nomes
começados por “m” do que outra letra, foi mais fácil. E os nossos próprios
nomes também começam por “m”…
Simão
S. - Lemos nas aulas de Português o conto « Eu, o lápis azul» da obra «7x25
Histórias de Liberdade» que é sobre a Revolução do 25 de Abril de 1974. Há
histórias sobre outros símbolos desse momento histórico. Porque é que não
escreveu sobre o cravo, que é o símbolo da Revolução?
M. F. S. - Eu não escrevi sobre o Cravo de
Abril porque no livro «7x25 Histórias de Liberdade», escolhi pôr a falar a
espingarda dos militares revolucionários, não como um símbolo da morte, mas
como um símbolo da Revolução, da democracia. Pois, colocaram cravos nos canos
das espingardas, assim a arma já não servia para matar, mas sim para festejar a
Liberdade.
Rúben
P. – Lembra-se de algum episódio do 25 de Abril de 1974?
M. F.
S. – Não, exatamente do dia 25 de Abril: ficamos fechados em casa, porque na
rádio os militares tinham pedido às pessoas para não saírem à rua. Mas
lembro-me do encontro do meu pai com uma prima, que tinha sido presa e
torturada pela PIDE e, quando o meu pai a quis abraçar, ela, instintivamente,
recuou como se a fosse magoar. É uma imagem que nunca vou esquecer. Outro
momento de que me lembro, tinha então 13 anos, foi o regresso à escola, um dia
ou dois depois. Já fomos sem batas – porque antes o uso da bata era obrigatório
– e as raparigas, que tinham de vestir saias abaixo do joelho, enrolaram a
cintura e assim transformaram-nas em minissaias. Foram momentos emocionantes,
de liberdade, organizava-se associações de estudantes, andávamos em reuniões. Mas
também me lembro que, quando chegamos à escola, verificamos que nem todos os
que lá trabalhavam concordavam com a Revolução e que queriam manter a ditadura.
Não eram muitos, mas isso surpreendeu-me.
Tatiana
S. – Escreveu “7x25 Histórias da Liberdade” e “7x1910 Histórias da República”. Para
si, qual é a importância de escrever sobre a História de Portugal para
crianças?
M. F.
S. – Conhecer a História do nosso país é fundamental e fico encantada quando as
crianças aprendem de forma divertida. Fico muito feliz quando os professores
leem as minhas histórias nas suas aulas e despertam assim o interesse dos seus
alunos por acontecimentos importantes da nossa História.
Daniela
A. - Qual é a sensação de ver uma obra sua numa livraria, à disposição do
leitor?
M. F.
S. – É algo de emocionante. Um dia, estava no metro e vi um senhor, sentado
mesmo à minha frente, a ler um dos meus livros para adultos, “ Uma pedra sobre
o rio”. Fiquei muito atrapalhada - com medo que me reconhecesse - mas também
muito emocionada. Queria saber o que estava a achar da obra, hesitei, mas não
tive coragem de lhe perguntar. Na estação seguinte, foi-se embora sem dar conta
de mim…
Rânia -
Gosta de vir às escolas apresentar as suas obras?
M. F.
S. - Para mim, é um prazer apresentar as minhas obras em todas as escolas. Mas
prefiro apresentá-las nas escolas onde os alunos conhecem os meus livros, onde
os professores abordam com eles as histórias que escrevo. Agrada-me estar aqui,
no Norte, pois vejo-vos empenhados e interessados no que tenho para vos dizer.
Alunos
do 6.º A, B, D
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