segunda-feira, 7 de novembro de 2016

As castanhas em risco!

AS CASTANHAS ESTÃO EM RISCO














Por Ricardo J. Rodrigues 06/11/2016



Nas montanhas portuguesas a paisagem está a mudar. E isso afeta um fruto cujo cultivo tem margens de lucro cada vez mais elevadas e com o qual Portugal tomou a liderança da produção europeia: a castanha. O interior do país parece ter ganho um novo balão de oxigénio com o castanheiro, mas as alterações climáticas estão a pô-lo em causa. Em Trancoso, metade dos soutos estão doentes. História da mudança do planeta, vista de uma serra beirã.

É fácil tropeçar num galho quando se caminha por um bosque de castanheiro. Mas Alfeu Magalhães costuma atravessa‑los com um tablet na mão, aprendeu a ter um olho no trilho e outro no ecrã. O engenheiro informático é desde há três anos proprietário de 14 dos 1500 hectares de souto que existem no concelho de Trancoso, distrito da Guarda – no país todo são 40 mil. Todos os dias visita o terreno munido do software que o próprio criou para monitorizar intervenções, doenças e estado de desenvolvimento de cada árvore. «Com este controlo mais apertado consegui aumentar a produção em vinte por cento. Mas, por causa das doenças que estão a aparecer, perdi vinte por cento do arvoredo. Produzo
o mesmo que há cinco anos. Só que com menos um quinto das unidades e ganhando mais dinheiro.» (…)
O aumento de temperatura trouxe novas doenças, os soutos de Trancoso estão assolados pelo cancro do castanheiro, a doença da tinta e sobretudo a vespa-dos-galhos. (…)

Existem, no total, 34 variedades deste fruto em Portugal, sendo as mais comuns a judia, a côta e a longal. Introduzida na Península Ibérica há dois mil anos, sempre se revelou um caso de sucesso no país.

Hoje, depois da China, Portugal ocupa o lugar cimeiro da produção de castanha.  (…)

Para mim, cuidar dos castanheiros é sentir que posso viver da natureza e das estações, mesmo que os ciclos da natureza estejam a mudar.» O rapaz abre um ouriço e arranca
lhe as castanhas. Seguraas na palma e diz: «Digam lá que isto não é a coisa mais bonita que há.»

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